sábado, 10 de abril de 2010

O CAVALEIRO SOLITÁRIO



...a mais bela voz do mundo!!

Mas que interessante! Passeando pela internet me deparei com este texto que trouxe pra cá retirado de um outro blog, o do jornalista Luis Nassif. É bom levar em conta o ano em que foi escrito, 1891. O autor, um dos grandes nomes da literatura mundial, o polêmico Oscar Wilde. O alvo da "penada" somos nós, os jornalistas.

“(…) Foi um dia fatal aquele em que o público descobriu que a pena é mais poderosa que as pedras da rua, e que seu uso pode tornar-se tão agressivo quanto o apadrejamento. Procurou imediatamente pelo jornalista, o encontrou e aperfeiçoou, e fez dele seu servo diligente e bem pago. É de lamentar por ambos. Atrás das barricadas, muito pode haver de nobre e heróico. Mas o que há por trás de um artigo de fundo senão preconceito, estupidez, hipocrisia e disparates? E esses quatro elementos, quando reunidos, adquirem uma força assustadora e constituem a nova autoridade.
Antigamente, os homens tinham a roda de torturas. Hoje tem a imprensa. Isso certamente é um progresso. Mas ainda é má, injusta e desmoralizante. Alguém – teria sido Burke? – chamou o Jornalismo de o quarto poder. Isso na época sem dúvida era verdade. Mas hoje ele é realmente o único poder. Devorou os outros três. Os Lordes temporais nada dizem, os Lordes espirituais nada tem a dizer, e a Câmara dos Comuns nada tem a dizer e o diz. Estamos dominados pelo Jornalismo. Nos Estados Unidos o Presidente reina por quatro anos e o Jornalismo governa para todo o sempre. Felizmente, nesse país, o Jornalismo levou sua autoridade ao extremo mais flagrante e brutal e, como decorrência lógica, começou a gerar um espírito de revolta: ou diverte ou aborrece as pessoas, conforme seu temperamento.
Mas deixou de ser a força real que era. Não é levado a sério. Na Inglaterra, o Jornalismo, com exceção de alguns poucos exemplos bem conhecidos, não tendo atingido estes excessos de brutalidade, permanece ainda um fator de grande significado, um poder realmente notável. Parece-me descomunal a tirania que ele se propõe exercer sobre nossas vidas privadas. O fato é que o público tem uma curiosidade insaciável de conhecer tudo, exceto o que é digno de se conhecer. O Jornalismo, ciente disso, e com vezos de comerciante, satisfaz suas exigências. Em séculos passados, o público expunha as orelhas dos jornalistas no pelourinho. O que era horrível. Neste século, os jornalistas ficam de orelha em pé atrás das portas. O que é ainda pior. O mal é que os jornalistas mais culpados não estão entre aqueles que escrevem para o que se chama de coluna social. O dano é causado pelos jornalista sisudos, graves e circunspectos que trarão, solenemente, como hoje trazem, para diante dos olhos do público, algum incidente na vida privada de um grande estadista, de um homem que é assim um lider do pensamento político como criador de força política. Convidarão o público a discutir o incidente, a exercer autoridade no assunto, a externar seus pontos de vista, e não somente a externá-los, mas a colocá-los em ação, a impô-los àquele homem sobre todos os outros argumentos, a impor ao partido e à nação dele; convidarão, enfim, o público a se tornar ridículo, agressivo e perigoso. A vida particular dos homens ou das mulheres não deveria ser revelada ao público. Este não tem nada absolutamente nada a ver com ela.
Na França há um controle maior nesses assuntos. Lá não se permite que pormenores dos julgamentos que se realizam nos tribunais de divórcio sejam divulgados para entreterimento ou crítica do público.
Tudo que se lhe permite saber é que houve o divórcio e que foi concedido a pedido de uma ou outra parte envolvida, ou de ambas. Na França, com efeito, limitam o jornalista, e concedem ao artista quase que completa liberdade. Aqui, concedemos liberdade absoluta ao jornalista e limitamos inteiramente o artista. A opinião pública inglesa, por assim dizer, procura tolher, cercear e submeter o homem que cria o Belo efetivamente, e compele o jornalista a recontar o factualmente feio, desagradável ou repulsivo; de modo que temos os mais sisudos jornalistas do mundo e os jornais mais indecentes. Não há exagero em se falar em compulsão. Há positivamente jornalistas que têm verdadeiro prazer em publicar coisas horríveis, ou que, por serem pobres, vêem nos escândalos uma fonte permanente de renda.
Mas não tenho dúvidas de que há outros jornalistas, homens de boa formação e cultura, a quem realmente desagrada publicar esse tipo de assunto, homens que sabem ser errado agir assim e, se assim agem, é apenas porque as condições doentias em que exercem sua profissão os obriga a atender o público no que o público quer, e a concorrer com outros jornalistas para que esse atendimento satisfaça o mais plenamente possível o grosseiro apetite popular. É uma posição muito degradante para ser ocupada por qualquer desses homens, e não há dúvida de que a maioria deles percebe isso sensivelmente.” (OSCAR WILDE, A Alma do Homem Sob o Socialismo, págs. 57/59, LP&M, 2003).
Pelo jeito, nada mudou... ou melhor, mudou sim, mas para pior!!
Acabei de assistir ao "Caçador de Pipas". Observando o nosso tempo e comparando com a bela história, percebi algumas coisas:

1 - a amizade sincera e pura, talvez tenha desaparecido dos corações, para sempre;

2 - a honra não tem mais espaço diante do "ter";

3 - sempre é tempo de mudar a si, para melhor.
PEGUEI-ME OLHANDO NO ESPELHO DO TEMPO
OUVI CLARINS E O REBOMBAR DOS TAMBORES
QUANTO ENGANO, ERA MEU CORAÇÃO
NO COMPASSO DA DERRADEIRA GUERRA

DE MIM CONTRA MIM MESMO

BATALHA INGLÓRIA
A VISÃO ERA EMBASSADA, AMARELADA
E RACHADA POR SONHOS E PESADELOS
VI-ME CALADO

FALANDO DE MIM PARA MIM MESMO

O SUOR RISCOU MEU ROSTO JÁ MARCADO
E ESCORREU EM MEU PEITO INTRICHEIRADO
SENTI-ME SÓ
ONDE ESTARIAM MEUS ANJOS? CANÇADOS?
FOI ENTÃO QUE TUDO ME VEIO COMO NUMA TEMPESTADE

E ME VI, SORRINDO, AO LADO DE MIM MESMO

Conto nº 2



            Ele chegou como todos os dias, cada vez mais cansado e mais rico. Seu apartamento de luxo – uma cobertura – fica no lugar mais caro e invejado da cidade, de frente para o Atlântico. Ainda com a pasta em uma das mãos olhou em volta e novamente só viu o vazio e a presença fria da mobília cara e moderna. A pasta teve o destino de todas as peças que tem pouca importância, ficando ali mesmo, sobre uma das poltronas. Enquanto se deslocava pelo apartamento as luzes o recepcionavam automaticamente como num palco de teatro. Acendia e apagavam conforme saia dos ambientes. A parte de cima do terno ficou por ali mesmo, no chão. Por um tempo ele desapareceu para logo reaparecer na sala, invadida pela luz de fora, da cidade e da lua. Deu uma olhadela pelo imenso janelão. Deixou-o com abertura suficiente para passar a brisa que naquela noite de primavera estava leve e fria. Resolveu tirar a gravata ao mesmo tempo em que lançava para longe os sapatos. Procurou com seu olhar a melhor poltrona e num segundo deixou-se cair sobre ela, afundando. Era sexta-feira.
            Empresário, rico, cobiçado por muitas mulheres... e só. Era o dia de seu aniversário. Trabalhou normalmente para chegar em casa sem ter um programa se quer para fazer. Recusara todos que chegaram até ele durante todo dia. Queria ficar só.
            - Mas é seu aniversário! Diziam todos.
            - Quero ficar só! Respondia e observava o olhar de desaprovação dos colegas.
            Sim, muitos colegas. Na empresa, fornecedores, clubes e restaurantes. Um nível de envolvimento raso, como um pires. Amigos? Há tempos que não os tinha. Deixara-os todos no passado. Parece que os havia substituído pelo sucesso e pelo dinheiro. O alarme do relógio, marcando nove da noite o tirou daqueles devaneios. Mas os quadros e molduras fixos na parede a sua frente o lançou de volta ao mundo enevoado dos pensamentos. Fotografias, diplomas, condecorações e títulos. Estava tudo ali, sua vida, seus sonhos e pesadelos. De que lhe adiantava tudo aquilo se no dia de seu aniversário estava só? Lembrou-se de uma frase do seu cantor preferido: Frank Sinatra.
             - Um homem não está só se tem uma garrafa de Jack Daniels! – falou em voz alta. Sim, era mais ou menos isso. E como não suportava as bebidas destiladas levantou-se preguiçoso e foi até a cozinha onde dentro da geladeira, uma garrafa de vinho o esperava.
            Souvignon Cabernet, safra 1998.
- Espero que você tenha valido o preço! – disse encarando a garrafa.
Num piscar de olhos, já sem a rolha, a nobre bebida deixava a sala com um aroma sedutor e repousava na taça de cristal. Caminhou novamente até a poltrona, mas desta vez sentou-se com calma para proteger o líquido encarnado.
Um, dois, três goles e os pensamentos insistiam. Pior, se intensificavam.
Dois casamentos fracassados. Filhos distantes, mimados e arrogantes. Culpa sua – pensava.
 Só Sophia demonstra carinho por mim. Falou para se convencer. Mas ela estava longe naquela hora. Procurou o celular para ler novamente a mensagem que a filha havia lhe mandado. Mas não encontrou.
A garrafa já estava meia e novamente o despertar do seu relógio o tirou daquele transe. O silêncio, seu velho companheiro há meses começava a incomodar. Foi até seu notebook, ligou-o e buscou o arquivo de músicas. Parou o cursor e selecionou a pastaS.I.N.A.T.R.A
Eram centenas de músicas do Old Blue Eyes, mas foi direto a letra I. Lá estava ela. Um toque apenas e a sala foi invadida por uma melodia triste e soturna. Os acordes iniciais foram suficientes para voltar a sua poltrona, encher a taça novamente e escutar a voz inconfundível sussurrar

                       In the wee small hours of the morning
While the whole wide world is fast asleep
You lie awake and think about the girl
          And never ever think of counting sheep


Nunca teve tanto medo de encarar uma nova manhã. Um novo dia. As mesmas pessoas. A mesma rotina.

Tomou o resto do vinho. Desabotoo a camisa até a altura da barriga, desafivelou o cinto e fechou os olhos. A sequência sinatriana continuou. Em sua cabeça cansada e quase totalmente governada pelo álcool ia repassando o rosto das mulheres que dariam qualquer coisa para amanhecer com ele na cama. Mas não conseguia achar nenhuma que valesse à pena. Lembrou de suas ex-esposas. Novamente de seus filhos. Do que passara para chegar até ali. Conquistara dinheiro, fama, liberdade e respeito. Mas também ciúmes, invejas, decepções, mágoas e, mais recentemente, solidão.

Ao mesmo tempo em que deu seu maior suspiro, aquele que se dá quando não acreditamos em mais nada, uma lágrima riscou seu rosto marcado e misturou-se ao resto de vinho que mantinha no canto da boca úmida.

Abandonou-se, assim, com os olhos fechados, na confortável e fria poltrona. Novamente seu relógio obedeceu ao tempo e marcou uma nova hora. Porém, fracassou em ter atenção.

Na sala, ainda embriagada pelo vinho e pela luz fria da lua, Sinatra, numa perfeita voz de barítono, relembrava seus bons anos,

When I was seventeen
It was a very good year
It was a very good year for small town girls
And soft summer nights
We'd hide from the lights
On the village green
When I was seventeen

AH, QUE SAUDADES DE UM BOM AMIGO DE VERDADE...

PROSA Nº 3

 Nº 3Morri há tanto tempo que nem me lembro mais
Só me recordo da Lua sobre nossas cabeças
E do seu cheiro, doce, suave e envolvente

Queria dormir nos braços da morte pra nunca mais acordar
Sentir que era possível voltar, ir e voltar novamente... e sempre
Como um super-homem que faz o tempo girar ao contrário           

Será possível? Não sei!
Só sei que ao seu encontro jamais podei ir
Somente sorrir de onde estou,
Contemplando daqui de baixo o que eu deixei
Aí em cima.

Conto nº 1


Se não fosse por alguns buracos feitos na velha janela de madeira por onde passava a luz do dia, podia-se dizer que o pequeno quarto, ou “aparelho”, estava completamente às escuras. O rangido do velho ventilador de teto era o som constante que Elias ouvia nos últimos cinco dias. O lugar era vazio de tudo. Um pequeno rádio de pilhas era o único luxo encontrado ali. Afinal, precisava saber das notícias, dos companheiros, do Brasil e do mundo, naqueles anos de chumbo.
            Às vezes ficava perdido no tempo, sem saber que horas eram ou o que fazer para que elas passassem. Dormir e ler velhos livros de ideais revolucionários era o que mais se podia fazer, ali.
            Mais uma vez o calor sufocante do verão carioca interrompeu o sono agitado de um dos mais antigos integrantes do MR-8, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro. Acordou, mas preferiu ficar deitado, olhando para o teto e tentando contar pela enésima vez quantas voltas as velhas e enferrujadas hélices davam antes que o rangido soasse.
            - Esse maldito calor vai me deixar louco!
            Mas não podia sair. Os disfarces já estavam manjados pelos militares. As operações já não surtiam efeito, pois as notícias corriam mais rápido. Os amigos iam caindo, um a um, e a maioria não agüentava tanta tortura e começava falar.
            - Milicos filhos-da-puta! Tenho que ficar preso feito um bicho, sem comida que preste, sem água, sem nada, só esperando a salvação ou a morte chegarem. Parece até música do Raul – sorriu. Afinal – pensou – ainda tinha algo de senso de humor. Mas até quando?
            Olhou para o relógio. Passava pouco mais das duas da tarde e isso deixou Elias preocupado. Alguém deveria ter mandado a quentinha do dia naquela altura.
            – Mais um dia comendo bolachas não vai dar – disse isso enquanto procurava um espelho.
– Estou cada vez mais magro... e velho.
Era verdade. Aparentava bem mais do que seus 27 anos. Continuou olhando para seu reflexo naquele espelho amarelado e quebrado. Será que aquilo tudo valia a pena? Quando foi preso pela primeira vez ouviu claramente alguns populares o chamando de “comunista filha-da-puta e assassino”. Mas não era para libertar aquele povo que ele e seus amigos estavam se sacrificando? Ficou confuso.
- Olho pra você – apontando para o espelho – e vejo Ricardo Molina e Silva. Bancário, casado, pai de dois filhos. Mas que merda é essa? Eu não sou nada disso, porra. Eu me chamo Elias da Costa, filho do seu Juarez, do mercado e de dona Marina. E meus irmãos, meus sonhos... Minha vida? E a Cíntia? Ah... Cíntia
Afastou-se e se sentou no único banquinho, para não cair. Respirou uma, duas três vezes.
– Eu não posso desistir agora. Muita gente depende de mim. Se me pegarem...
Não terminou a frase, pois não queria pronunciar aquela palavra infame: tortura.
– Prefiro levar um balaço a ficar pendurado num pau-de-arara, ir pra cadeira-do-dragão, sofrer afogamentos! Não vou!
A revolta o fez pronunciar as últimas palavras alto demais, por isso decidiu se deitar novamente e ficar ali, calado, esperando.
Enquanto tentava lembrar os nomes de todos que já haviam caído nas mãos dos milicos ia percebendo o quanto o quarto ia se tornando mais escuro, vazio e silencioso. O exercício mental estava funcionando até que foi interrompido pelos dois sinais em código feitos do lado de fora da porta. Uma batida, um arranhão na madeira. Uma nova batida e um arranhão na madeira.
– Já não era sem tempo, Matias, vocês querem me matar de fome neste inferno?
Antes de respirar para continuar seu protesto sentiu o cano frio da arma encostada em sua testa suada e quente.
- Matias, caiu!

Foram as últimas palavras ouvidas por Elias.

PROSA Nº 2


Lá se vão meus anos
Com eles sinto amarelar minhas poesias sustentadas por um não sei o quê
Tenho minhas lembranças numa espécie de ramalhete colorido
E quando vem o vento... Já se foram

Cheguei cedo a minha própria partida
O sino soou e o trem principiou
Meu coração bateu num ritmo desenfreado
Então eu corri, corri e corri, até ela

Aqui estou...
Nas mãos a solidão de flores murchas
No olhar, lágrimas secas de um tempo
Que passou, voltou e ficou


OUÇA A NARRAÇÃO DESTA POESIA CLICANDO ABAIXO


NÓS, OS JORNALISTAS... QUE PIADA!!

PROSA Nº 1


Eu via claramente
Teu reflexo naquele vidro velho
Ao som de melodias que nunca havia ouvido.
Tu sorrias ao meu encontro
E nem sabias disso!


Procurei rapidamente sintonizar
A freqüência de meu coração,
Tão cheio de cicatrizes:
“Um som romântico... rápido!”


Foi quando, num bocejo ingênuo
Destes um suspiro
E retornei sozinho,
À minha imperfeição de homem.


OUÇA A NARRAÇÃO DESTA POESIA CLICANDO ABAIXO


"TRISTEZA, POR FAVOR VÁ EMBORA!"






Enfim minha primeira viagem como repórter. Sim, eu já havia feito, em Quixadá, a cobertura da visita do presidente Lula quando da sua visita ao sertão cearense. À época, como repórter estagiário da TV União. Mas desta vez, como repórter da TV Fortaleza, eu iria ficar um fim de semana completo em Juazeiro do Norte, onde acompanharia a oficialização do projeto da construção de uma imagem, a de Nossa Senhora da Assunção. A imagem – resultado do projeto de dois vereadores da Capital – seria colocada em uma praça do santuário com o mesmo nome da santa. Bem, a situação de quem vai de encontro a um desafio desses é de simplesmente não saber o que pode acontecer. Longe da redação, não poderia contar com mais ninguém, caso precisasse. Felizmente não precisei. As pautas estavam feitas. Sim, assim mesmo no plural. Explico: a cobertura oficial da chegada e permanência dos dois políticos e suas respectivas comitivas eram os focos principais do nosso trabalho, meu, do cinegrafista e do auxiliar – que, aliás, era da terrinha do "padim". É claro que não imaginei que pudesse desfrutar de um fim de semana com tudo pago na terra do padre Cícero. Tínhamos a missão de fazer matérias – quantas pudéssemos – sobre a cidade, sua cultura religiosa, seu comércio, sua gente etc. Então, lá fomos nós, saindo na sexta-feira, dez da noite, do bairro Nova Assunção e chegando ao local, Centro de Juazeiro, as seis da manhã. E não foi fácil o dia...
Ao todo foram cinco matérias – isso mesmo – cinco matéria das dez da manhã, quando fomos ao famoso horto, onde está a estátua de 15 metros do homem considerado santo, até as seis da noite, quando encerramos nossa participação entrevistando ninguém menos do que o seu Lunga. Mal paramos para almoçar. Percorremos, além do horto e do museu que nele há, o Centro comercial da cidade, seu mercado central à lá Beco da Poeira, mas bem mais organizado e limpo. Fizemos matéria também em um outro museu, na praça principal, onde se podem ver objetos usados pelo padre Cícero, assim como fotografias de figuras importantes da então Juazeiro de fins do século XIX e início do XX e também de momentos históricos, como a visita do capitão Virgulino Ferreira, o Lampião e seus asseclas cangaceiros. Outra coisa bem difícil foi segurar o ritmo – muitas vezes abusado – do experiente cinegrafista que me acompanhava. "Vamo, vamo, gravando, gravando, GRA-VAN-DO..."
Como não tínhamos nada marcado, tais como entrevistas, visitas etc, tive que usar uma das grandes armas que recebo diariamente de Deus e que nunca falha: a criatividade. E mais uma vez ela deu conta do recado e voltamos, depois de uma longa viagem de regresso, no domingo de manhã, com cinco matérias e muito cansaço. E eu, mais uma vez, pude dormir de consciência livre – apesar de ter sido a uma hora da madrugada para levantar as cinco, quando teria ainda uma manhã de pautas, agora, de volta a Capital. Vida de repórter – uma das melhores!

ALMA LAVADA



Assistindo ao programa Observatório da Imprensa, apresentado por um dos meus mestres, o velho e bom jornalista Alberto Dinis (foto), tive a impressão de estar ouvindo música da melhor qualidade. Eu explico: o assunto do debate era o filme do momento, "Tropa de Elite" e o porquê das pessoas estarem tão interessadas nele. Entre os debatedores estava o filósofo Renato Jeanine Ribeiro, o jornalista e crítico de TV, Gabriel Priole, além do Dinis, do diretor do filme, José Padilha e do escritor do livro que deu origem a película, que agora não me recordo o nome. Bem, o ponto máximo foi quando o Priole, já veterano na imprensa, disse com todas as letras que "não há mais reportagem", onde o repórter pode pesquisar, ouvir e sentir as fontes e os fatos e assim despertar o emocional na sociedade e daí fomentar o desejo da discussão . Sim, Sim é isso mesmo que acontece nas redações. A relação do filme e o sucesso no Brasil é que o material que foi pra pirataria e só depois para o cinema, apresenta o tráfico de drogas, a corrupção humana e policial e o uso das drogas pela classe média-alta que, automaticamente, financia o tráfico formando o famoso círculo vicioso e mortal. A imprensa, que deveria representar tais discussões - e ações - pouco se interessa.Os chefes de reportagem, editores e todos os níveis de chefia estão de mãos dadas com os diretores e empresários da imprensa. Buscam outros interesses e não investem no humano, leia-se, jornalista. Pelo menos com essa fábrica de parafusos que se tornou as redações ("produza um, duas, três... trinta pautas"), não vamos aprofundar assunto nenhum, muito menos um delicado como este das drogas. "Estamos bem de articulistas mas ruim de reportagem", alfinetou, de novo, Priole. E é isso que eu sinto trabalhando e fabricando paraf... digo, matérias, todos os dias. E há chefia que diz: "olha, você tem quatro pautas para fazer com horrário marcado e uma quinta pauta que poderá ser feita entre uma e outra matéria!"

Bela imprensa essa nossa!

Por isso, mais uma vez: Viva o Jornalismo Literário! Aquele que faz o leitor/telespectador/ouvinte pensar!

UMA VIAGEM POR FORTALEZA NOS RITMOS DOS TRANSPORTES URBANOS PÚBLICOS



A linha é Aeroporto-Papicu-Parangaba. O nº é 66. As duas filas formadas para o embarque, em uma das plataformas do Terminal Urbano da Parangaba, são bem disputadas. O horário – por volta das 6 e 30 da manhã, é chamado de “pico” pela grande quantidade de trabalhadores e estudantes que pretendem seguir aos seus destinos. Alguns olham distraídos para qualquer lado. Outros conversam. Outros, no entanto, se impacientam, olhando de tempos em tempos para o relógio, ou celulares para conferirem a hora da chegada do transporte. A rotina faz com que muitos saibam o horário exato da chegada do ônibus. Um atraso, que pode não ser incomum, deixa a fila mais agita e comprida.
Quando o ônibus aponta na esquina da plataforma, a fila, que já é bem grande, ganha vida própria e avança, comprimindo os passageiros da frente. A primeira parada é feita para que idosos, gestantes e passageiros com crianças de colo, possam subir pela porta da frente. Sobem com eles, também, vários pacientes, com acompanhantes, da Apae, a Associação de Pais e Amigos de Deficientes, de Fortaleza. O ônibus em questão passa em frente a sua sede, no bairro Luciano Cavalcante. É possível ouvir alguns passageiros reclamando da condução que já vem parcialmente ocupada. Mas a preferência para este tipo de passageiro é permitido por lei municipal. Finalmente o ônibus 66 abre sua porta – a do meio – e começa o jogo de empurra-empurra que beira o surrealismo. São muitos tentando passar por um espaço feito apenas para dois passageiros de cada vez. Onde esta a solução? Educação e respeito. Como incutir isso em quem deseja chegar ao emprego, à escola, ou faculdade todos de uma vez? Creio que uma bem feita campanha publicitária sobre o valor da boa vontade para com o próximo, a valorização da educação nos coletivos, o respeito pelo espaço do outro seria uma alternativa viável para melhorar o conforto do usuário de terminais. Campanhas aos moldes das de trânsito, com resultados comprovados em todo o país.
Dentro, incontáveis pés e mãos tentam um lugar para ser seu. Muitos, sem sucesso, não conseguem, bastando apenas “ficar em pé”. Há tantas pessoas juntas e comprimidas que não existe perigo de uma queda ou coisa parecida. O calor, mesmo nas primeiras horas do dia, já é sufocante. Calor, excesso de pessoas e ainda comprimidas resulta em desgaste e até mau humor para quem nem começou o dia de trabalho e estudo. Climatizar coletivos das linhas mais usadas em períodos de picos diurnos (G. Circular, Paranjana, Aeroporto, Náutico) seria mesmo inviável? Um acordo entre Prefeitura e empresários é impossível? O resultado daria um ganho de credibilidade imensurável para o poder público gerenciador do transporte urbano. Por enquanto, o transporte por ônibus, em determinados horários, em Fortaleza, permanece um desconforto bem democratizado.

Meu mundo "crônico"



Fiz meu primeiro livro. Um de crônicas. São 30 delas. Tenho uma grande paixão pelas crônicas desde de quando, há vários anos, cairam em minhas mãos, autores como Fernando Sabino, Joel Silveira, Luiz Fernando Veríssimo e Rubem Braga. Vou passar a postar algumas delas por aqui. A primeira delas é OLHARES URBANOS e faz parte do meu livro O Muro Azul. Sejam bem vindos ao meu mundo "crônico".
Um relógio na parede. O primeiro encontro matinal. O olhar semi-serrado. Pelas pálpebras, o flerte com a hora. Os raios do sol que passam pelas frestas da janela se alongam, lambendo o piso do quarto, os lençóis da cama e os rostos.
O banho. O café. O olhar sobre aquela que ainda dorme. A saída e o caminhar por entre árvores - tão poucas; entre pessoas - tão distantes; entre automóveis - tão frios.
Um banco de ônibus. “Olha o troco!” Estranhos dividem o mesmo espaço, o mesmo quadro; o mesmo olhar sobre a mesma paisagem, diariamente. Rostos familiares, asseados, sonolentos, buscam um motivo que os impulsione, que os faça perseverar naquela rotina. Trocam-se olhares. Banco duro e vazio do lado da janela. “Com licença?” Desconforto democratizado. Olhos tombam vencidos ainda pelo cansaço do dia anterior. Olhar a hora. “Que horas, por favor?”
O canto dos pássaros, o som do vento que assanha as árvores. O riso das crianças. Um olhar para o passado. A cidade que cresce. Não, a cidade que incha; que se derrama e que invade.
O olhar sobre o presente. Mas não um presente qualquer, o presente do modo subjuntivo: “que eu olhe um mundo melhor”. O canto das buzinas, o som dos motores, as vozes que reclamam. Olhando o meu mundo. O banco, a janela emoldurando a paisagem de ontem, de amanhã e, quem sabe, do mês que vem; do ano que vem. Os olhares não se cruzam mais. Viraram cativos dos devaneios, das leituras ou simplesmente do sono. A luz, o sol e o calor participam da leitura. Eu, o sol e entre as mãos, um Fernando Sabino com folhas soltas, gastas e amareladas. O olhar que passeia pelas estradas literárias, pelos campos de verbos, sujeitos e predicados sempre bem iluminados pela manhã, numa terra de sol, de luz e de mar. A minha terra.

CONJUGANDO O VERBO APURAR



Confesso: sempre acreditei que informações deveriam ser pensadas, discutidas, enfim, analisadas de todos os ângulos possíveis. Mas é tão interessante - pra não dizer espantoso - como muitos profissionais de imprensa se tornaram, ao longo de anos de trabalho, aparentemente pouco reflexivos. São agitados demais, falam demais, reproduzem em alta velocidade as palavras e deixam no ar a lembrança de um velho ditado: "a palavra é de prata e o silêncio é de ouro". Se queremos qualidade, como fazer isso a 200 km/h nas redações de hoje. Muitos - principalmente os que já chegaram ao cargo de chefia - tentam nos fazer acreditar que o ritmo é esse mesmo e a máxima é "produza, produza, produza", facilitando o aparecimento de erros, dúvidas e angústias para quem esta envolvido com a profissão. Três, quatro e as vezes mais matérias. Edição de quatro, cinco até mais matérias, tudo em questão de uma ou duas horas. As redações parecem muito mais com uma grande prensa que, ao apertar o botão, cospe dezenas, centenas de parafusos, todos igualzinhos. E o "apure, apure e apure"? Quando foi riscado dos manuais de bom jornalismo? É de se pensar, caros colegas.

CANTO TRISTE



Estava indo para mais uma pauta, ouvindo em meu celular "All the Way", cantada pelo Timóteo, quando o motorista virou pra mim e disse: "Tu soube que o Pavarotti, morreu?" Fiquei pensando "Pavarotti, morto..." Apesar de ser o dia em que meu filho completava 3 anos, e da felicidade desta data, não pude como não guardar, em um cantinho do meu coração, a tristeza pela partida de alguém que é sinônimo do Bell Canto. Quem me conhece bem, sabe que eu passei anos estudando e exercitando técnicas deste estilo de cantar (amo o canto!), estilo dos cantores líricos. E eu adoro ver os vídeos que tenho do Luciano Pavarotti. Sua expresão, sua forma de respirar e de aplicar as notas mais agudas, como em "Nessum Dorma" ou em "Non ti Scordar di Me" (lindas!). De todas as belezas que Pavarotti cantou e extraiu delas emoção no mais alto grau, acredito que foi na popularização do canto lírico, vulgarmente chamado por muitos de "ópera", que ele se superou e presenteou nosso tão maltratado mundo com o que há de mais divino: a arte de cantar!

Saudades do terno gigante, em particular quando terminava uma ária e, sorrindo, com os dentes e a língua a mostra, abria seus braços e, na mão direita o sempre presente, lenço branco!
O velho e inspirado jornalista Mino Carta, certa vez, saiu-se com uma definição do jornalismo que eu tento sempre manter bem viva em minha mente - e no dia-a-dia também. É mais ou menos assim: "O jornalismo deve ser construído principalmente sobre três pilares: a busca canina pela verdade, a crítica sempre afiada e a fiscalização do poder". Portanto caros colegas, mãos a obra!
POR QUÊ NÃO POSSO INFORMAR MEU TELESPECTADOR/LEITOR DE UMA FORMA MAIS "SABOROSA" SE A ORIGEM DAS PALAVRAS SABOR e SABER TEM A MESMA RAIZ LATINA?

UM JORNALISTA LITERÁRIO


Terminei. Desde de quando me deparei com os primeiros textos de jornalistas que escreviam inspirados pela pena de um estilo chamado nos anos 60 de jornalismo literário - ou newjornalism, como era chamado nos EUA, de onde veio - que a identificação foi imediata. Sim, eu terminei a última página de uma das bíblias deste estilo tão esquecido hoje, tanto pelos editores quanto pelos próprios jornalistas. Trata-se de Fama&Anonimato, do jornalista estadunidense Gay Talese. É realmente um banho de como se deve escrever sobre qualquer assunto. Não vou explicar e nem debater o livro, o autor ou seu estilo (ou nosso, se me permitem!). Vou dizer que os dois anos que venho vivendo em redações de televisão, ajudando a fazer um telejornalismo que cada dia mais vomita informações pouco trabalhadas e pouquíssimo originais no colo de telespectadores, não me afastei um milímetro se quer do que acredito ser um bom jornalismo. Refiro-me àquele jornalismo que manda às favas o tempo, a velocidade da apuração (apuração veloz (?), que paradoxo incomodo), as entrevistas feita por telefones, as pautas "compradas" das assessorias etc. 
Vida longa ao Jornalismo Literário, aquele que faz o repórter sujar os sapatos e suar (literalmente) a camisa, bem longe dos ares condicionados das redações.

PRODUTORES X PRODUTORES


Há produtores e produtores. Acabo de ler um livro sobre tele-jornalismo (Jornalismo de TV/Luciana Bistane e Luciene Bacelar/Editora Contexto). Lá, uma das autores lembra dos tempos em que produtor ia às ruas para garimpar pautas. Bem, estamos longe mesmo disso. Hoje, produtores, no aconchego dos aparelhos de ar-condicionado, da internet e do telefone, acabam ficando míopes quando o assunto é trabalho em equipe. Não é raro o repórter sair com uma pauta do tipo " Caro repórter, não marcamos nada, mas como você é competente..." Em outras palavras, "se vira que você não é quadrado!" Aí, é fazer as apurações, as entrevistas, a produção de imagem, a busca por entrevistados etc. Voltar sem a pauta é pecado mortal. Certa vez, uma das produtoras resolveu sair com a equipe e percebeu quantos buracos tinha na pauta que ela havia produzido. Me lembro de uma das aulas de tele-jornalismo na faculdade quando a professora, profissional de renome no meio jornalístico do Ceará, lembrou que produtor não é apenas para agendar entrevista. Tem que pensar até se vai chover ou não no dia da pauta. É isso.

TENSÃO LEVADA PRA CASA



Hoje foi um dia tenso. Tive que fazer duas matérias na Assembléia Legislativa do Ceará. O local estava lotado, com mais de uma centena de pessoas entre populares, parlamentares estaduais e federais, além de um senador e o Governador do Estado. O motivo era a discussão sobre o apóio do Ceará no projeto da transposição do Rio São Francisco. Já cheguei atrasado, pois vinha de uma outra pauta. Portanto perdi as principais entrevistas. Então tive que sair a cata de um ou outro político. Corro pra lá e pra cá. A apreensão de sair dali sem as benditas sonoras me angustia. Aí é que entra o autocontrole, a capacidade de perceber que é possível fazer e confiar no seu “taco”. E assim foi, até o momento em que o Governador iria sair, se eu o perdesse, não teria outra chance e perderia minhas pautas. A tensão é grande. É claro que falo por mim, mas no momento eu sentia que o ar irradiava a mesma coisa. Não era apenas eu que esperava com ansiedade o entrevistado. Havia muitos colegas com microfone e gravadores em punho. Mas era eu que estava na ponta do semicírculo. Era eu que tinha que fazer a primeira abordagem, a primeira pergunta. “Eu não posso vacilar. Não posso dar uma gaguejada se quer. Talvez eu nem respire na hora”. Isso era mais ou menos o que eu pensava na hora. Então veio o homem e... Ataquei o entrevistado com uma pergunta, com duas e três e depois de tudo terminado, soltei o ar ao mesmo tempo em que falava com o meu câmara: “Missão cumprida, chapa!”.
Mas confesso que a tensão foi tão grande naquelas duas horas e principalmente nos três minutos finais que carrego o peso dela sobre minhas costas – literalmente – enquanto eu escrevo este texto, já passadas mais de doze horas do trabalho terminado. Sim, vida de repórter de carne, osso e nervos.