quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Não basta tentar ser sem parecer | Opinião | O POVO Online

Não basta tentar ser sem parecer | Opinião | O POVO Online


É possível confiar em alguém que não conhecemos? E se ainda este alguém tem, há gerações, sua imagem associada a notícias de irregularidade, crime, opulência e inacessibilidade? É possível uma relação de confiança entre duas partes? Claro que não! Eis uma leitura, digamos, mais empírica da pesquisa O POVO/Datafolha divulgada esta semana sobre a confiança da população nas instituições mais próximas de nosso dia a dia.

Com os percentuais mais altos de desconfiança estão partidos políticos, Assembleia Legislativa e Câmara Municipal, respectivamente com 51%, 50% e 49%. Ou seja, metade dos entrevistados não acredita nestas instituições (Prefeitura de Fortaleza e Governo do Estado ficaram com 38% e 24% de desconfiança).

Voltamos à pergunta: é possível confiar em quem não se conhece? Você já foi à Assembleia? Conhece o endereço de funcionamento da Câmara? Sabe o que faz um partido político quando não está pedindo votos em época de eleição, como atualmente?

Se a população e estas instituições estão separadas por um abismo cultural e histórico, como esperar números melhores de uma pesquisa que fale sobre confiança? Credibilidade é algo caro e que se conquista pouco a pouco, todos sabem disso. Para crer em alguém ou em algo temos que ter um mínimo de relacionamento, estar perto, participar, interagir. E não parece ser isto algo comum entre o cidadão e um partido político, por exemplo.

Que tipo de ação desenvolve uma legenda durante os dois anos que separam as eleições municipais e estaduais/federal? Ou será que partido só deve existir para eleger? Não. E a imagem dos legislativos municipais e do Estado, na mente e no coração das pessoas, como está? Há algum trabalho que fomente a educação política e cidadã no cearense? Algo que minimize a ideia de que nestas Casas só há corrupção e articulações sombrias e que política é coisa de espertalhão? Estes espaços públicos (salões, plenários, salas de audiências, gabinetes etc) não deveriam fazer parte dos currículos acadêmicos dos estudantes, futuros eleitores e políticos do nosso Estado?

Com tais percentuais de credibilidade é impossível seduzir o cidadão de bem para política participativa, atraí-lo para mobilizações suprapartidárias, chamá-lo a exercer seus direitos e deveres na construção de uma sociedade melhor. Como diz o velho ditado: “não basta ser, tem que parecer”. Nossas instituições, no entanto, aos olhos do povo, nem são e muito menos parecem.

Danilo Amaral
daniloamaraljornalista@gmail.com 
Jornalista e especialista em Marketing Eleitoral e Político