segunda-feira, 12 de abril de 2010

CRÔNICA

MESSEJANA DA PELE VERMELHA
Parece até que eu posso vê-la. Já vem tão
rápida quanto à ema selvagem, correndo e
saltando por entre as matas e lagoas que existiam
em toda a Messejana. O vento fresco assanhava
- mas só um pouquinho - os cabelos lisos e longos
da linda Iracema. Aliás, esse mesmo vento ainda
hoje passeia por entre as árvores do lugar;
árvores que respeitosamente dão, como naqueles
tempos, mangas, cajus, sirigüelas, cocos e
também a já muito cobiçada sombra para os dias
de muito sol.
Colher os frutos depois das pescarias e
caçadas eram, provavelmente, o que os primeiros
habitantes do lugar, irmãos de Iracema, deveriam
fazer. A tribo dos Tabajaras, a qual ela pertencia
- sob as bênçãos de Tupã e sob a pena de José
de Alencar - chamava aquela imensa área verde
de “a lagoa abandonada”, ou Messejana mesmo,
como diziam na língua tupí-guarani.
A lírica terra de bom clima do escritor José
de Alencar, continua lá. Sua lagoa abre as portas
para uma aldeia urbanizada com muito mais
concreto e asfalto que matas e cipós. Os gritos
selvagens, os cantos dos pássaros o barulho das
águas rasgadas pelas pirogas dos indígenas foram
trocados pelos roncos dos motores, pelos carros
de som e pelas vozes diversas dos vendedores
ambulantes, dos feirantes e de todo o povo que
escolheu o bairro para morar, trabalhar ou
apenas passar.
As praças, os becos, as ruas e as avenidas
cortam de norte a sul o grande bairro que já foi
município um dia. Seu comércio e suas indústrias
parecem que vão, dia-a-dia, convencendo e
acostumando os nossos olhos a uma paisagem
fria e cinzenta. Outrora, o mesmo lugar era
cortado pelos pés descalços cobertos de terra
vermelha de Cauby, Andiara e Irapuã, a mesma
terra que o progresso teima encobrir com fuligem
e cimento. O povo passa pra lá e pra cá, pelas
ruas, praças, feiras e pela vida de Messejana,
deixando um rastro de luta, de esperança, de
alegria e de energia. Para muitos que ali
depositam momentos de sua lenda pessoal,
Messejana continuará sendo o local onde a bela
pele vermelha de “cabelos mais negros que a
asa da graúna”, os espera, assim como espera o
seu amado Martin.
Hoje de fibra, aço e resina, aquecida pelo
sol e banhada pela lua e pelas águas da grande
lagoa, a boa índia está comportadamente sentada
sobre uma grande pedra. Está lá e permanecerá
saudando o povo que vai e volta, que passa por
suas terras e não pára; que flerta com ela, com
sua lagoa e com as matas que ainda restam.
Esse povo também é um pouco filho seu um
pouco Moacir; povo que leva nos traços tupíguaranis
- seja no corpo ou na alma - a beleza e
a pureza que também Messejana teima em
presentear.